LUCIANNO MAZA
post-its para me lembrar de mim
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Aos inimigos: o coração valente (censurado)
terça-feira, 27 de abril de 2010
sábado, 23 de janeiro de 2010
Para não ficar no silêncio absoluto...
(passe o mouse ->) E os espaços em branco entre as peças é a vida acontecendo.
PS: Não esqueça de dar o crédito ao autor, sempre.
domingo, 19 de abril de 2009
Caderno Teatral
Trilha-sonora: cd "Gregorian Beatles" de The Chant Masters
Este blog continua destinado à publicação bissexta de meus textos pessoais: fictícios ou não.
Agora iniciei um segundo espaço, destinado à falar de teatro, mais precisamente dos espetáculos que tenho gostado de assistir.
Acesse o meu Caderno Teatral e confira!
Te vejo lá, e logo por aqui também.
domingo, 25 de janeiro de 2009
Quando chorei assistindo um desfile de moda na tv
Trilha-sonora: cd “Der Heisse Brei” de Wim Mertens

Este espaço foi aberto pouco depois que cheguei em São Paulo, e lá se vão dias e semanas e meses e logo serão anos: dois. Começo assim porque uma das normas da narrativa literária clássica é situar o tempo. Então assim me situo no tempo: dois anos.
Tenho pois dois anos de idade, desmamei do seio de minha mãe e começo a tentar andar, tenho medo de cair e me machucar, mas a gravidade é intransponível. Vou ao chão e choro, não é a dor da pancada que me leva a berrar histericamente, é sim a sensação de que meu maior medo aos dois anos se cumpriu: o fracasso da tentativa, a queda. Então alguém diz que preciso levantar e voltar ao caminho. “Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor”.
Às vezes eu tenho a impressão que a depressão é sofisticada demais por alguns, que no fundo ela é só dor física de uma queda aos dois anos. Ou esta que estou sentindo agora e que comprime minha garganta e meu coração numa só corda torcida cada vez mais. Analgésicos para a dor... É disso que preciso. Pílulas de tarja preta ou gotas de Bach? Acordes de “Air On G String”.
E acho que eu escutei The Smiths demais, por isso me apaixono. Maldito Morrissey. Paixão juvenil escrita em papel de caderno. Cartas que nunca foram entregues. Amor melancólico, daqueles que se assemelham a uma tarde chuvosa. Coração nublado. Foi por causa de uma dessas nuvens tempestuosas que escrevi meu último texto por aqui, nele eu dizia sobre uma mulher e um homem apaixonado por ela. Outro rabisco no fundo da gaveta, entulho.
A paixão, sobretudo estas de gavetas, liberta e aprisiona na mesma medida. A prisão pode vir em forma de depressão, obsessão ou frigidez. A liberdade essa vem por meio da percepção de que você sente então logo existe, está vivo.
Liberto, então os olhos logo incham ao menor sinal de emoção. E a dor que nasce no miocárdio atravessa o semblante até o globo ocular. Em mim as lágrimas ardem insuportavelmente ao brotar. E embora essa ânsia de vômito-choro apareça com freqüência nos últimos tempos, pouco tenho sentido o gosto de sal na boca. Escorrem em mim tristezas não líquidas. Não sei se pela questão “social” (e penso quando afinal chegará a Revolução Masculina?) ou porque as glândulas lacrimais estão com alguma deficiência. Preciso mesmo ir ao oftalmologista, os nervos de meus olhos têm ficado inquietos, talvez pela força que exercem sobre eles os fatos.
Naquele dia eu esperava uma resposta profissional de importância definitiva para mim, do tipo “última chance”. E embora possa não parecer às vezes, a realidade prática têm me atormentado como uma intransponível gravidade que me leva ao chão. Então foi difícil dormir, eu tentei ir cedo pra cama para que a noite logo passasse e a hora tão esperada chegasse. Mas acordei tempo depois, pouco antes das seis, meu horário de ir para Oz.
Luminosidade do horário de verão numa manhã fria e então ligo a tv e passeio por televendas, filmes, desenhos e cultos religiosos. Acabo por parar num canal que fazia o resumo das atrações da São Paulo Fashion Week... Parei por ali, gosto de ver um pouco de moda - uma das garotas por quem me apaixonei arrebatadoramente no colegial queria ser estilista (se formou dentista, só para constar) - e além disso eu acho divertido, informativo e às vezes inspirador até. Um ou outro desfile interessante narrado por seus criadores, sempre com uma elaboração muito burilada, um conceito quase sempre maior que o resultado. Uma grife exibia uma coleção inspirada nos Smiths, esses mesmo que já citei, não, não gostei tanto do que vi, mas me identifiquei com a estilista e suas impressões da banda marco de nossas vidas.
Então um estilista que desconhecia completamente aparece conversando sobre seu desfile com a ex-vj que apresenta o programa, ele conta que a coleção foi inspirada nas czarinas da Rússia dos séculos passados. Eu pensei “lá vem uma viagem cultural alla novela das oito” e não dei a menor bola. Isso até o primeiro frame da passarela aparecer na tela e Wim Mertens (e/ou Lisa Gerard) e Antony And The Johnsons – músicas que me emocionam – tocarem na trilha, e então fiquei atenciosamente encantado. E o encanto logo virou comoção ao ver aquelas mulheres desfilando as obras de arte do Samuel Cirnansck enquanto eu percebia a riqueza de seu trabalho em poeticamente ligar a Rússia czarista à moda contemporânea, sem parecer difícil ou ridículo. Não era algo de originalidade inovadora, não, mas as peças eram realmente lindas e o conjunto do que acontecia na passarela muito forte. Um acontecimento em mim às seis e pouca da manhã. Eu estava tomado pela apresentação e então, no encerramento, quando uma impactante modelo negra entrou na passarela trajando um vestido de noiva preto e uma neve artificial começou a cair sobre ela e todo seu caminho, eu já havia sentido a dor nos olhos e uma ou duas lágrimas já estavam em meu rosto. “A beleza me emociona”.
Achei estranhíssimo chorar com um desfile de moda transmitido pela televisão. Não sabia se havia me transformado numa fashion victim, se em outra encarnação eu fora russo, ou se meu estado de nervos era tão gravemente sério a ponto de eu chorar com algo dito ‘tão fútil’ e com três minutos de duração. Essa situação foi uma daquelas que nos faz pensar em um monte de coisas. Do primeiro amigo que contei recebi risos compreensíveis e a opinião que meu estresse realmente está desesperador – e ele não deixa se ter razão; mas por outro, que viu o tal desfile fui respondido que sim, era bonito: frio e elegante, e que era realmente a “minha cara”. Não sei se ele disse isso pela questão plástica da estética que realmente tem a ver com meu trabalho, ou se eu era elegante e frio...
A resposta profissional à qual tanto esperava foi negativa. Estou perdido no deserto infértil e minha bússola foi destruída há muito tempo. Mais que isso, estou exausto de tanto engatinhar por aí. O problema de se começar cedo demais é que se cansa ainda jovem. Já culpei as políticas do mundo, já culpei minhas escolhas. E penso que minha vida, sem amores, completamente voltada para meu trabalho se torna sem o menor sentido se este não existe. Quando criança eu queria ser duas coisas: ator ou cientista. Por quê não fui estudar a Ciência?
Tantos passos e tentativas de. Confronto com o que é estabelecido, pelos mecanismos corrompidos da profissão, pelos desencontros amorosos, pela tal felicidade, pelos caminhos nem sempre perfumados e iluminados.
Penso em abandonar tudo às vezes. Há duas possibilidades... Uma seria assumir outra identidade. Não que pra isso eu precise mudar de nome, não, até porque isso pouco ajuda na verdade. Mas uma dessas mudanças de identidade que fizeram Rimbaud abandonar a poesia e traficar armas na África. Entendem? Dentro de mim um ímpeto de partir... Abandonando tudo, carregando menos peso. Me tornar ainda mais anônimo do que sou. Desaprender e esquecer.
Sobre a segunda possibilidade, um amigo um dia sorriu e disse: “eu não tenho medo que você faça isso, há brilho em seus olhos”. Completou dizendo que eu tinha planos e que quem têm coisas a fazer se mantém aqui. Depois de assistir ou ler um texto meu, me falam algumas vezes “como pode uma pessoa tão doce escrever coisas tão doídas?”. É claro que eu não sou só escuridão, que não sou linear ou chapado nisso. Eu tenho carinho pelos outros, sou divertido, meio metido a engraçado, acho que tenho um humor apurado e irônico, conquistei amigos, sei ser simpático e realmente têm coisas que eu gostaria de dizer. Além disso às vezes me apaixono. Mas quem afirma que isso tudo é minha verdade? Quem consegue ver para além do brilho dos olhos? O que afinal há de errado comigo? Gritos de socorro em silêncio. As tais lágrimas que não escorrem. A euforia é só uma reação adversa do medicamento que eu não tomo.
Em tempos de “emos”, sentir coisas assim é coisa sem importância, só mais uma pequena tragédia pessoal burguesa, uma exibição de talento para a tristeza, uma perda de tempo para os outros. E não há tempo. Para nada... Então isso aqui é outra ficção, todas as histórias são, a narração de um diário juvenil, uma bad trip. E logo irei dormir e sonhar com a neve sobre a Rússia.
Porque para cair é só tentar andar.
Afinal sobre o quê era mesmo esse texto? Sobre ter dois anos!
domingo, 16 de novembro de 2008
A invenção do amor
Trilha-sonora: cd The Masterplan de Oasis

Eu pensava que tinha perdido a capacidade de me apaixonar. Não sei se benção ou maldição, mas me pensava assim: curado do amor. Que os últimos acontecimentos da vida tinham endurecido o coração. Mas ele só estava congelado, e com um pouco de calor parece ter derretido. E agora vaza de mim amor líquido. Como um suor que teima em me molhar o rosto.

Então eu amo como um jovem influenciado por Werther. Eu amo ao som dos Beatles. Eu amo do jeito que inventaram um dia que era amar. E nós acreditamos porque vimos “Before Sunrise” (e depois ainda lançam “Before Sunset”!), porque ouvimos muito Radiohead, porque cada um de nós teve uma namoradinha aos cinco anos de idade (a minha se chamava Amanda) e foi rejeitado por outra na adolescência (Manoela). Eu amo e choro. Eu amo e rio. Eu amo e espero.
Mesmo entregue à vida mundana essa essência está lá, impregnada, e logo exala por todos os poros deixando claro quem eu sou e que talvez veja tão pouco. Faltam em mim elementos químicos que levam à depressão. E ela turva tudo. Um eterno par de óculos escuros frente aos meus olhos. Então meu amor é melancólico, como todo resto.
Eu escrevo e as palavras misturam verdades e ilusões. Todas as histórias são ficções depois de desenhadas em papel. Eu escrevi algo para S. uma vez e ela me respondeu “não precisa ser tão trágico assim”. Mas é claro que precisa, porque ela decretou-se morta em silêncio logo depois. Sua morte em minha vida foi uma tragédia. E como uma Antígona carreguei em lembrança seu cadáver até conseguir enterrar em algum ponto remoto da memória.
Neste tempo continuei me apaixonando, mas por coisas simples, pelo que não dói. Não amor amor. Pequenas paixões ao longo dos dias. Mas então uma grande. Que eu vou fingindo não ver o tamanho, e que só cresce.
Afirmo que é uma bobagem, tento ouvir um ou outro amigo que tenta ajudar dizendo que eu só confundi as coisas, ou mesmo me jogar em outros braços pra esquecer aqueles que não me têm. Só que nada disso adianta muito por muito tempo.
Ontem eu a vi. Depois de algumas semanas. Não sei se ela me viu, porque não fiz questão disso. Mas eu a vi ali, acompanhada, a dois ou três metros de mim. Eu a vi e segui meu rumo. Conversas e risos entre amigos. Social com desconhecidos. Segui o rumo da vida com falsa naturalidade, como se tudo estivesse correndo bem. Mas não estava, eu queria parar a vida, molhar aqueles lábios com o salgado de minhas lágrimas discretas.
Tento lembrar do Rei Roberto (“de hoje em diante só vou gostar de quem gosta de mim”), mas não adianta, por mais que eu viva a vida – e vou vivendo – isso-amor está aqui, isso-amor dói e isso-amor continuará até um dia em que se desapareça como chegou: num olhar, num toque, num sonhar.

Amo e não digo, mas amo e escrevo.
O quê fazer com isso tudo? Embrulhar e mandar pra presente? Deixar guardado até que um dia floresça ou apodreça? Talvez apenas seguir avante por estes caminhos sinistros dos (des)encontros.
Aquilo ainda se mexe dentro de mim, dor incômoda.
Feliz por me sentir vivo por que dor é sinal de vida.
E já que não tenho Rivotril, vou tomar Sonrisal pra ver se passa.
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Vórtice

03.58
terça-feira, 25 de setembro de 2007
Oração
Trilha-sonora: o silêncio, música do tempo

Somos todos espectadores de um freak-show eterno no qual somos ao mesmo tempo as principais atrações. Banalizaram a existência. Privatizaram o pensamento. Curraram a esperança. Matar e morrer são normais quando a vida não vale a pena. E o que você tem a ver com o que está acontecendo comigo? Salve-se quem puder, os piores na frente. E nenhuma oração será ouvida, porque os deuses estão mortos. Foram assassinados numa chacina sanguinolenta e silenciosa. O palco desprotegido é atacado por novos deuses enfurecidos que exigem a capa do segundo caderno ou as páginas policiais, não importa. American dream de brasileiros carnavalescos que renegam à Rosa Magalhães... Despertai-vos dentre os mortos velhos deuses! E façam justiça a seus filhos legítimos.
Escrito em 2006 para "quaseTUDO" e retomado em "Modo de Preparo (Passo 1)".
Próxima apresentação: 18 de Outubro na MOLA - Mostra Livre das Artes, Circo Voador - RJ.
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
“Lonely People” na cidade grande
Cinco meses depois do primeiro dia vejo a cidade nublada da minha janela no décimo oitavo andar de um prédio no centro. Uma queda daqui seria vôo obtuso no espaço do sempre e do nunca. A arquitetura do Niemeyer impede lançar-se, eu reparei isso logo na primeira visita ao apartamento, na verdade é possível, mas seria preciso quebrar o vidro com cuidado e mergulhar de barriga no ar, como um super-man sem poderes: uma atitude veloz. Não acredito nos suicídios desesperados, mas sim naqueles que são naturais à vida de quem os pratica.
Aprender a voar
sábado, 23 de junho de 2007
Pequena ilha da fantasia aterrada no país da imaginação
Trilha-sonora: cd Under The Iron Sea – Keane

Sou um carioca que não gosta de praia. Não gosto de areia, não gosto de água salgada, não gosto de Sol. A praia pra mim é bela à noite, fria e deserta. Adorava caminhar pelo calçadão do Arpoador à Ipanema em madrugada, esse sempre foi meu programa praieiro. Ver a praia assim, de longe, me desperta uma melancolia e profunda solidão. Me faz pensar... Lembro rapidamente de alguns programas furados na praia, como uma vez, quando, eu praticamente de terno completo, fui até a areia cumprimentar um amigo debaixo de sol de Fevereiro.
Começo falando do meu desinteresse pela praia idealizada para justificar um pouco meu desconforto no Rio, onde tudo (ou quase) gira em torno da faixa de areia, a cidade é espremida entre morros e o mar, mas não é bucólica, se pretende metropolitana: rápida e capital, e esse é o problema... Ficamos no meio do caminho, entre uma coisa e outra.
Cariocas são tanta coisa como canta a Calcanhoto. Sim, eles são bacanas. Somos bacanas. Acho que não há povo mais desavergonhadamente bem-humorado, que ri do circo de horrores que transformaram a cidade, que ri com lata d’água na cabeça, que ri sacana quando o time do melhor amigo perde (se não for o próprio, claro).
Li num blog uma expressão criada, segundo o endereço, pela Érika Palomino: “fazer uma de carioca”, o exemplo era mais ou menos isso: festa lotada, uma moça sem cigarro vê outra com um maço de Carlton na mão, então vai até a desconhecida, bem extrovertida, puxa conversa e ri junto como se fosse a melhor amiga de infância, tudo para na cara de pau “filar” um cigarrinho. Ou seja, a moça “fez uma de carioca” para conseguir seu cigarro.
O quê os cariocas podem fazer sitiados então? Muitos ficam em casa, escondidos, protegendo-se em seus apartamentos do pânico, luxo blindado pra uns, ou em suas casas de reboco tão próxima dos QGs do tráfico, à esses resta rezar. Alguns outros cariocas arriscam-se à badalar em Bagdá, em sair às ruas sem colete à prova de balas, utopia alcoólica para continuar a vida, e quer saber? Acho que essa é a única forma de continuar... Porque a resolução não virá depressa, infelizmente, e se esconder-proteger, é um pouco se matar também.
Eu sempre me “arrisquei” atravessando a cidade praticamente toda de ônibus, de madrugada que é meu horário normal... Meus pais, alguns amigos, sempre aterrorizados, preocupados com minha integridade física. Mas a integridade humana, onde fica? Então vivia como se a violência não estivesse próxima, esquecendo o fantasma pra não me assustar.
Mas tudo bem, tudo bem, porque a permuta do Raajmahal tá garantida, vamos abrir uma Skol e esquecer, que amanhã tem mais apresentação vazia ou lotada de Star Palco. Reclamemos em torno da pizza, gritemos e xinguemos todos! Mas não vamos perder nosso tempo fazendo algo realmente sério pra mudar a situação do mercado, vamos? “Te vejo na Farme, beijo tchau”!
E neste país da loucura tudo é possível! Porque ninguém propôs fazer uma Copa do Mundo agora no Iraque, pensou? Ou as Olimpíadas em Tel-Aviv. Mas um Pan no Rio veio à calhar! O povo esquece que não tem merenda na escola, nem médico no hospital, nem nada. Sorria pro New York Times abraçado ao gringo, jogador de squash.
Viver com meu trabalho no Rio foi ficando cada vez mais impossível, despeitado e sem lógica. A cada reeleição dos Garotinhos ficava mais pessimista. A cada encontro e desencontro nos foyers dos teatros cariocas ficava mais triste em constatar que todos (ou quase) colegas estavam na mesma, pensavam a mesma coisa, e não se via rumo de mudança. Todos querendo, e ninguém fazendo.